O que o mercado espera para a economia em 2023? Confira.
Mesmo diante de tantas incertezas no mercado financeiro, os juros devem seguir elevados, mas há oportunidades na Bolsa.
Data de publicação: 02/01/2023 às 08:00 - Atualizado 9 dias atrás.
Poucas vezes o mercado financeiro teve um cenário tão desafiador pela frente como em 2023 , avaliam especialistas. O ano que começa chega carregado de dúvidas, tanto locais quanto internacionais, o que embaralha as decisões de investimento.
A largada de 2023 tem início com a formação de novo governo no País , um processo de transição que sempre gera incertezas. A indefinição da política fiscal causa desconforto no mercado. Um governo com viés expansionista costuma bater nas expectativas de inflação e de juros .
Mercado financeiro inicia o ano com incertezas sobre a transição de govenro - Foto: Reprodução.
Incertezas sobre o novo governo.
Não à toa, em um cenário de falta de clareza e pontilhado de dúvidas, uma das unanimidades de opinião no mercado é a manutenção de juros em patamar elevado . Quanto tempo isso vai durar é uma dúvida. De acordo com especialistas, depende da política fiscal. Uma certeza é que a postura do novo governo nessa questão vai influenciar a política monetária, outro consenso nas análises do mercado.
Daí que o ano começa em ambiente até desalentador para a bolsa . Juro alto costuma não combinar com animação no mercado de ações.
Ademais, o cenário internacional, que em geral impacta a bolsa local, não parece colaborar com tom otimista: persiste a incerteza com a política monetária e a economia dos EUA , a preocupação com a continuidade de guerra na Ucrânia , a reabertura da economia chinesa com as medidas de restrição contra a covid-19 em um ambiente de novos surtos da doença e o temor de uma recessão da economia global.
Ubirajara Silva, gestor de Galapagos Capital, prevê um ano que começa difícil no Brasil e no exterior. Ele diz que, por aqui, o primeiro semestre tende a ser mais desafiador e o segundo, mais tranquilo. E sugere uma estratégia para fazer a travessia do ano nesse ambiente.
Juros elevados.
“Como os juros estão oferecendo retorno atraente, o investidor pode ficar na renda fixa no começo do ano, mais desafiador, e ir gradativamente para a bolsa”, opina. Isso, segundo o gestor, poderia ser feito aproveitando qualquer eventual queda no primeiro semestre “para ir montando uma posição comprada para ganhar no segundo semestre”.
Para Sérgio Evangelista, gestor de portfólio da Western Asset, o ano que começa poderá repetir 2022, que, “com a ajuda do Banco Central (BC)”, fez das aplicações atreladas ao CDI as opções mais atraentes de investimento.
A Selic alta e, com ela, o CDI elevado dão maior atratividade à renda fixa em detrimento da bolsa, avalia Evangelista. “A dúvida é o que vai fazer o Banco Central com os juros em 2023”, acrescenta.
Em boa medida, a condução da política monetária, segundo ele, vai depender da política fiscal do novo governo do presidente Lula, que, quando mostrou as cartas, por meio da PEC da Transição , apontou ser expansionista. “São gastos que podem ter peso no fiscal”, avalia.
A variável-chave nessa equação é a formulação de um arcabouço fiscal, prevista para agosto. Será ela que vai fazer com que o Banco Central (BC) mantenha uma política monetária dura por mais tempo ou não, avalia Evangelista. A dúvida, diz o gestor, é saber se o novo governo terá uma política fiscal que vai facilitar o trabalho do BC.
Então “esses 13,75%, que é a taxa Selic atual, podem permanecer nesse nível por mais tempo e manter a renda fixa bastante atraente”, avalia Evangelista. “Se a âncora fiscal se mostrar bem-sucedida, o BC vai ter espaço para reduzir os juros”, acredita.
Tesouro Selic e Tesouro IPCA.
Na dúvida, ele diz que os ativos de renda fixa mais indicados para começar o ano são os atrelados à Selic, como o Tesouro Selic ; à inflação, como o Tesouro IPCA , já que “as expectativas para a inflação são relativamente altas”, e ao CDI, como os títulos privados, dentre eles, debêntures.
Jayme Carvalho, planejador financeiro pela Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro), diz que o cenário de indefinições recomenda que o investidor seja mais cauteloso e conservador. E vê oportunidades na renda fixa, tanto em títulos indexados à Selic e ao CDI, títulos atrelados à inflação e até em prefixados, desde que com prazos não muito longos.
Rodrigo Mendonça, sócio da Valora Investimentos, destaca o crescimento forte da indústria de renda fixa, principalmente dos fundos de crédito privado, puxado pela alta dos juros em 2022.
Com a perspectiva de manutenção de juros nesse patamar no curto e médio prazo, ele se diz “bastante otimista com a renda fixa, sobretudo com o mercado de crédito privado, como debêntures , CRIs (Certificados de Recibos Imobiliários) e CRAs (Certificados de Recibos do Agronegócio) .
Riscos do crédito privado.
Mendonça lembra, no entanto, que o olhar na escolha do ativo de crédito privado deve ir além da rentabilidade. “É muito relevante que o investidor seja pouco mais cauteloso na seleção dos ativos ou fundos”, alerta. “O risco de crédito das estruturas na dinâmica do crédito privado aumentou bastante com a piora das condições macroeconômicas.”
A preocupação com o risco de crédito faz sentido porque os títulos de emissão privada não contam com a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) , que assegura ressarcimento de até R$ 250 mil por CPF.
Como ficam as opções em bolsa.
Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, diz que a expectativa é de uma bolsa em alta, com projeção de 132 mil pontos no fechamento do ano, mas muito dependente da política fiscal. Para ele, a falta de controle sobre o fiscal faz com que o Banco Central (BC) seja obrigado a manter os juros altos, “o que dificulta a valorização da bolsa”.
Ele afirma que embora as primeiras notícias do novo governo nessa área não sejam positivas, as commodities têm ido bem e a perspectiva é que os preços continuem no atual patamar, dando sustentação ao Ibovespa .
‘O momento bom das commodities, tanto do minério de ferro quanto do petróleo, ajuda a bolsa, já que são 25% do Ibovespa”, destaca Soares. “Já o setor de bancos, outro quarto do índice, é mais sensível à atividade econômica”, avalia o analista.
O gestor da Galapagos Capital, Ubirajara Silva, afirma que os bancos são sempre um setor muito bom no Brasil, apesar da inadimplência em alta. “É algo que preocupa, mas o setor é sempre resiliente e muito promissor.” Outro setor que vê como interessante para 2023 é o de siderurgia, “com o preço do minério subindo, pela reabertura da economia chinesa”.
Ubirajara Silva diz que o investidor deve ficar de olho também no setor de varejo, que sofreu muito em 2022. “Tem empresas bem depreciadas que, se a economia começar a andar, será um bom cavalo para montar.”
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Repórter da Mais Retorno.